Projeto Traduções LIVRES
Apague as luzes e fique quieto
O apelo de Trump para que os governadores "dominem" mostrou por que é melhor se ele simplesmente não fizer nada.
Link: https://slate.com/news-and-politics/2020/06/trump-riots-leadership-bunker.html
Veículo: Slate.com
Data de Publicação: 01/06/2020
Autorx: Jim Newell
Título original: Turn Out the Lights and Keep Quiet
Trump’s call for governors to “dominate” showed why it’s better if he just does nothing.
Traduzido por/Translated by: Nara A. de Souza
No fim de semana, como os protestos provocados pela morte de George Floyd por policiais de Minneapolis se transformaram em confrontos noturnos violentos entre polícia e manifestantes, o presidente Donald Trump tinha pouco a oferecer. As metáforas não eram sutis: ele fugiu para o bunker da Casa Branca num passe de mágica; a Casa Branca ficou escura. A decisão do presidente de fazer, essencialmente, nada, não foi uma omissão. Foi o produto de uma análise de custo-benefício de Trump e sua equipe sênior da Casa Branca, que conhecem o homem deles.
"Trump e alguns de seus conselheiros calcularam que ele não deveria falar com o país porque não tinha nada a dizer e não tinha nenhuma política ou ação tangível a anunciar ainda, segundo um funcionário sênior do governo", informou o Washington Post. "Evidentemente, não sentindo uma motivação urgente no domingo para tentar unir as pessoas, ele ficou em silêncio."
Os conselheiros de Trump só conseguiram mantê-lo calado - ou limitado a alguns tweets inúteis por dia, pelo menos - por algum tempo. O problema de manter Trump silencioso como uma estratégia deliberada é que isso significa que as notícias o tratarão como ator secundário, um status que Trump é psicologicamente incapaz de permitir por mais de algumas horas. Afinal, ele se tornou presidente para garantir que as notícias fossem centradas nele. Então, na segunda-feira de manhã, ele se reinseriu no centro das notícias, pressionando seu único botão de resposta a crises disponível, a provocação, durante uma ligação com governadores e autoridades de segurança nacional.
"Vocês têm que dominar", disse Trump na teleconferência, cujas gravações foram compartilhadas com inúmeros repórteres antes mesmo da conclusão. "Se vocês não dominam, estão perdendo tempo. Eles vão atropelar vocês. Vocês vão parecer um monte de idiotas." Ele disse aos governadores que “a maioria de vocês é fraca” e que “vocês têm que prender pessoas, e vocês devem levar pessoas à julgamento, e elas precisam ser presas por longos períodos de tempo”. Ele seguiu em um discurso retórico encorajando os governadores a aprovar leis proibindo a queima de bandeiras.
Essa frase poderia ter sido escrita a qualquer momento desde 2017, mas parece importante enfatizá-la hoje: os Estados Unidos, de alguma forma, terão que sustentar-se até pelo menos 20 de janeiro de 2021, em uma situação em que o líder eleito, no melhor cenário, apenas fica quieto e, no cenário médio a pior, cria mais problemas.
Trump fez um pronunciamento nacional ao país do Salão Oval no início do surto de coronavírus. Ele ou seus conselheiros tiveram a infeliz idéia de que qualquer coisa que ele dissesse poderia "acalmar" a nação. Foi um desastre, durante o qual ele cometeu erros políticos significativos que deixaram as pessoas em pânico, quando tudo o que ele precisava fazer era ler. O governo teve mais sucesso quando "lavou" e diluiu suas responsabilidades de liderança através de funcionários públicos capazes, como Anthony Fauci. Mas Trump não podia permitir que Fauci, Deborah Birx, ou mesmo Mike Pence tivessem os holofotes por muito tempo, e repetidamente arruinou preciosos momentos de calma, brigando com governadores que temporariamente preencheram o vazio da liderança política, ou pressionando remédios não testados. A crise do coronavírus está em andamento, o presidente raramente fala mais com Fauci e o desemprego está na casa dos dois dígitos pelo futuro próximo. O país pode precisar de liderança, mas o melhor que pode esperar é o silêncio presidencial.
O país precisa de liderança após a morte de George Floyd e os protestos, motins e provocações policiais que se seguiram. Liderança, nesse caso, é alguém que pode falar com todos os pontos de vista e convencer todos a trabalharem de maneira produtiva. Isso não é fácil, mas ser presidente também não, e é por isso que tentamos examinar os presidentes para detectar neles as qualidades necessárias para fazer o trabalho. O melhor que nosso atual presidente foi capaz de oferecer - e quero dizer que era a melhor oferta possível, e ele deveria ter se apegado a ela - era nada. Era esconder-se no bunker da Casa Branca e apagar as luzes. Fique lá embaixo ou marque um horário para aparecer, sinceramente. Essas são as melhores opções dos Estados Unidos para sobreviver nos próximos sete meses (e quatro anos, potencialmente) sempre que surgirem momentos em que o presidente deve agir como presidente.
Isso nem sequer é uma crítica pessoal a Donald Trump, ou alguma esperança passageira de que ele possa mostrar algo que anteriormente não havia mostrado. Ele é programado do jeito que é e não pode mudar. Pedir a Trump que intensifique e forneça liderança em um momento de crise é como pedir que uma casca de banana suba e voe para a Lua. Ninguém espera que ele tente. A ausência de liderança sempre fez parte da presidência de Trump, mas está sendo sentida com mais intensidade no quarto ano, quando atualmente há várias razões para muitos, muitos americanos se sentirem em perigo de saírem pela porta da frente e viverem suas vidas. Trump não é capaz de melhorar nada, apenas piorar, então, por favor, por favor, não peça para ele tentar.
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