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Escolas de Mineápolis votaram para encerrar contratos com a polícia após a morte de George Floyd

A decisão é um grande passo para ativistas enquanto os protestos aumentam pelo país e podem levar outros distritos a fazer o mesmo.

 

Veículo: Buzzfeednews.com

Data de publicação: 02/06/2020

Autorx: Molly Hensley-Clancy

Título original: Minneapolis Public Schools Voted To End Its Contract With The City’s Police After The Death Of George Floyd

The decision is a giant step for activists as protests rise across the country, and could drive other districts to do the same.

Traduzido por/Translated by: Letícia Palhares

 

O conselho das escolas públicas de Mineápolis votou unanimemente para encerrar o contrato de 1,1 milhões de dólares do distrito com o Departamento de Polícia de Mineápolis após o assassinato de George Floyd, alegando que as ações da polícia da cidade "vão diretamente contra os valores" do distrito escolar.


Essa está entre as vitórias mais adiantadas e tangíveis até agora para os ativistas que protestam contra o assassinato de Floyd, que exigem que os departamentos de polícia sejam reformados, privados de financiamentos ou abolidos para conter a violência policial. Poucos, ou nenhum, distritos escolares já haviam adotado uma medida tão dramática sobre o assunto.


Várias centenas de pessoas, incluindo a deputada Ilhan Omar, se juntaram do lado de fora do prédio do distrito antes da votação.


Estudantes de ensino médio de escolas locais e grupos comunitários já se organizavam há anos para tentar forçar o distrito a remover a polícia, chamados de oficiais da escola, de escolas municipais. Mas depois de três mortes policiais de grande visibilidade na cidade e um incidente com uma árvore de natal racista, poucas pequenas ações concretas foram adotadas pelos responsáveis, para além de passos incrementais a fim de reduzir o número de policiais e treinar a polícia.


Então George Floyd foi assassinado na rua no sul de Mineápolis.


A morte de Floyd foi diferente em parte porque a conversa parece ter simplesmente mudado, disse Nathaniel Genene, um ativista estudantil e estudante do ensino médio de uma escola pública no sul de Mineápolis.


"Poderíamos ter debatido durante todo o dia: você põe seu dinheiro na polícia ou em serviços sociais e apoio a conselheiros?" Disse Genene. "Este é um vai e vem que acontece há muito tempo."


O assassinato de Floyd e a indignação que o seguiu, disse Genene, "só finalizou a conversa. Era: 'nos alinhamos à polícia de Mineápolis, eles se alinham aos nossos valores? Vocês podem continuar a se alinhar com um grupo de pessoas que priva seus estudantes de direitos?' Acho que já não era a mesma conversa, moralmente."


Dois dias após a morte de Floyd começar a assolar a cidade com protestos e tumultos, a Universidade de Minnesota anunciou que cortaria alguns laços com o Departamento de Polícia de Mineápolis. Pouco depois, os membros do conselho da Escola Pública de Mineápolis apresentaram uma resolução para encerrar completamente o contrato do distrito escolar com a polícia. Alguém convocou uma reunião especial imediatamente. Houve um ataque de emails de estudantes e membros da comunidade, disse um membro do conselho.


"Esta votação é sobre justiça," disse Siad Ali, o diretor do conselho, durante a reunião na terça-feira. "Já passou da hora de encerrarmos este contrato com a polícia de Mineápolis. Eles não satisfazem nossos valores, portanto, não teremos nenhum assunto com essa organização."


Na sequência do crescente escrutínio nacional sobre a eficácia e segurança dos policiais escolares contratados por departamentos de polícia locais, alguns distritos tentaram medidas de reforma, incluindo tentar limitar o envolvimento dos policiais em quaisquer disciplinas escolares.


Mas há poucos precedentes para um distrito escolar encerrar o contrato com a polícia inteiramente, como fez a de Mineápolis, segundo Marc Schindler, diretor executivo do Justice Policy Institute, uma organização de defesa de direitos.


"Eu não estou ciente de distritos escolares realmente tomando essas decisões," disse Schindler.


Enquanto a raiva sobre raça e policiamento provocada pelo que aconteceu em Mineápolis alcança grande agitação em todo país, o fim do contrato da Escola Pública de Mineápolis pode impulsionar iniciativas similares em outros distritos escolares, segundo Schindler, juntamente com pressões econômicas pelo coronavírus que levarão os distritos a repensar em como gastam sua verba limitada. Um membro do conselho escolar em Denver, Tay Anderson, pediu na semana passada que o distrito municipal corte seus laços com a polícia.


"Ei, Nova Iorque! Ei, Colorado! Ei, Nevada! Olhem pra gente – estamos fazendo diferença com nossas vozes, assim como nossos pais e vizinhos também estão, e vocês podem também. Estudantes podem fazer o mesmo e pressionar nossos oficiais eleitos," disse Janaan Ahmed, ativista estudantil que se formou no ensino médio da Escola Patrick Henry, de Mineápolis, nesta semana.


"Se não fosse pelos protestos que aconteceram entre as ruas 38th e Lake, se não fosse pelos residentes de Mineápolis indo às ruas, o país não se pareceria com o que está agora."


A iniciativa, que Ahmed disse ter conhecido em seu primeiro ano do ensino médio, há quatro anos atrás, cresceu nas escolas da cidade nos últimos anos após uma série de assassinatos e outros incidentes cometidos por policiais em Mineápolis e arredores.


Teve Jamar Clark em 2015. No ano seguinte, Philando Castile, um funcionário da Escola Pública St. Paul, do outro lado do rio. Dois anos depois, houve a árvore de natal racista decorada por policiais de Mineápolis com embalagens da lanchonete Popeyes, licor de malte (espécie de cerveja de alto teor alcóolico) e fitas de cena de crime[1]. Em seguida, o presidente do sindicato policial de Mineápolis usou uma camiseta em que se lia "Policiais por Trump".


Os estudantes das escolas públicas de Mineápolis estão entre as dezenas de milhares de manifestantes inundando a cidade desde a morte de Floyd. Alguns foram atingidos em repressões policiais envolvendo gás lacrimogêneo e balas de borracha.


Ahmed disse que viu um ex-colega de classe atingido por uma bala de borracha na cabeça, em uma transmissão ao vivo. Ele foi uma das primeiras vozes que ela ouviu defendendo a retirada da polícia de sua escola, segundo ela, quando ainda era uma aluna do primeiro ano.


"Esse era um dos meus colegas ‒ andávamos pelos corredores juntos."


Ahmed pensou que imagens como essas forçaram o conselho escolar a confrontar a realidade da relação entre polícia e estudantes. "Vemos policiais atingindo jovens que frequentam as escolas públicas de Mineápolis com gás lacrimogêneo e balas de borracha, então como vocês podem se sentar como conselho escolar, como oficiais eleitos, com estudantes sendo atingidos?"


Cerca de 1600 estudantes de Mineápolis responderam à uma pesquisa enviada por Genene e outros ativistas estudantis, disse ele na reunião do conselho, na terça-feira. Mais de 90% votaram por "desinvestimento total" do departamento de polícia.


Antes da votação de terça-feira, segundo um organizador da comunidade, adultos rejeitaram por décadas a insistência dos estudantes de que policiais escolares, destinados a impor medidas de segurança, na realidade os fizeram se sentir menos seguros.


"Ver George Floyd no asfalto, já contido, foi algo incontestável," disse Kenneth Eban, um organizador do grupo Our Turn (Nossa Vez). "Mas de certa maneira, aquilo foi triste e lamentável, pois estudantes já vinham falando disso há anos. Parece inaceitável, que você não pudesse apenas escutar as pessoas que foram mais profundamente impactadas pelo que está acontecendo."


Alguns policiais nas escolas de Mineápolis têm um relacionamento próximo com os estudantes. Na North High School, uma escola de ensino médio predominantemente negra, o policial escolar também é o técnico de futebol.


Antes da votação de terça-feira, um grupo de 10 estudantes da escola North falou do policial como um "pai" que os fazia se sentir mais seguros, segundo um repórter do Star Tribune. "Com a saída do policial escolar, ninguém se sentirá seguro na escola," disse um estudante.


Eban disse que o policial da escola North era como uma "estrela".


"O que devemos lembrar, porém, é que isso é um sistema, e o sistema não pode ser construído a partir de uma estrela," disse Eban. "Devemos pensar e identificar uma nova visão de segurança para Mineápolis e suas escolas. Podemos fazer isso. Só precisamos aceitar a ideia que os policiais não precisam fazer parte da solução."


Do outro lado da cidade, na South High School, escola de ensino médio ‒ a apenas alguns quarteirões da Terceira Delegacia, próxima de onde Floyd foi morto, que foi queimada por manifestantes na semana passada ‒ há tensão na aplicação da lei por anos, segundo estudantes.


"Os estudantes realmente não se sentem seguros porque não estabelecemos relacionamentos com nossos policiais escolares," disse Zigi Kaiser, um estudante da South. "Não conseguimos confiar neles em nenhuma situação."


Ativistas estudantis queriam deixar claro o que significava o voto do conselho escolar. Ahmed disse que planeja continuar a luta para convencer o conselho a mudar o nome de sua escola, chamada Patrick Henry, que escravizou negros em sua plantação.


E o fato de que o único representante dos estudantes não teve permissão para votar em suas resoluções?


"Essa é uma conversa que teremos também", disse Genene.


"É apenas uma mensagem para as escolas públicas de Mineápolis: ei, não terminamos, estamos apenas começando," disse Ahmed, "vocês podem votar e fazer isso em duas horas, imaginem o que podem fazer nas próximas dez horas. Não vamos parar."


[1] Nota da Tradução: a embalagem da lanchonete que vende frango frito e os demais itens estão associados à estereotipação da comunidade afro-americana.

 

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