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Os eleitores negros estão vindo em direção a Trump

Eles não deveriam perder a esperança. Eles estão no centro da luta para recuperar a América.

 

Veículo: Nytimes.com

Data de publicação: 03/06/2020

Autorx: Juan Williams

Título original: Black voters are coming for Trump

They shouldn’t lose hope. They are at the heart of the fight to take back America.

Traduzido por/Translated by: Stefania Tolomeotti

 

Em Columbia, Carolina do Sul, no sábado, uma jovem manifestante disse a um repórter que simplesmente não achava que votar era "como a mudança acontece".

"Eles estão nos dizendo para fazer isso há tanto tempo", acrescentou ela, "e nós fizemos – e veja tudo que ainda está acontecendo".

A fúria pela morte cruel de George Floyd, um homem preto sob custódia policial, combinada com o medo de um vírus mortal e seu doloroso impacto econômico, fazem deste momento sombrio e vertiginoso em nossas vidas. Mas os afro-americanos não deveriam se sentir sem esperança, porque o voto dos pretos é importante – nunca foi tão importante. É o cerne da luta para recuperar a América.

É difícil ignorar a maior história da política de 2020. Mas de alguma forma ela está sendo ignorada.

O voto dos negros agora define a política americana.

Joe Biden seria aposentado se não fosse pelo voto dos negros. Os eleitores negros fizeram dele o candidato presidencial dos democratas. Em novembro, o número de eleitores negros que se apresentarem nos cruciais estados da Pensilvânia, Michigan e Wisconsin serão provavelmente o fator decisivo nas eleições. Isso significa que os eleitores negros, 12% do eleitorado nacional, devem escolher nosso próximo presidente.

Mulheres negras, a base ativista mais confiável do partido, são a versão deste ano das estrelas de campanhas passadas – as soccer moms e blue collar moms (mães que gastam boa parte de seu tempo em atividades com seus filhos e mães envolvidas em trabalhos braçais, respectivamente). A melhor ilustração desse poder é uma mulher negra perguntando a Jim Clyburn, seu congressista da Carolina do Sul, em quem ele planeja votar nas primárias. Ele respondeu Joe Biden e seguiu com um endosso público: “Conhecemos Joe. Mas o mais importante é que Joe nos conhece."

Com vitória esmagadora na Carolina do Sul, Biden vence com facilidade o resto do sul. Dois dos principais concorrentes, sem força entre os eleitores negros, Pete Buttigieg e Amy Klobuchar, desistiram e o endossaram.

A consolidação repentina do partido em torno de Biden encerrou abruptamente uma corrida confusa que muitos temiam estar seguindo rumo a uma convenção aberta. Poucos viram isso acontecer. Biden parecia entediado em comparação com o apaixonado Bernie Sanders e o furioso Donald Trump. No entanto, as pesquisas mostraram consistentemente que em uma disputa eleitoral geral foi Biden quem deteve a maior margem de vitória sobre Trump.

Há muitas razões para que os eleitores negros gostem de Biden – seu histórico de nomeações judiciais e direitos de voto durante seu longo mandato no Comitê Judiciário do Senado; seu trabalho na área de gastos com incentivos federais após a recessão e no Obamacare; e, claro, seu trabalho como vice-presidente do primeiro presidente negro do país.

No entanto, derrotar Trump está no topo da lista. Para os eleitores negros, a perspectiva de mais quatro anos desse governo é mais do que política.

É pessoal.

É uma reação nascida de um medo real – do racismo que levou um homem branco a atirar em Ahmaud Arbery, na Georgia, e um policial branco a pressionar seu joelho no pescoço de George Floyd, em Minnesota, do racismo que todos os dias resulta em mais negros morrendo de coronavírus. Os afro-americanos veem isso e veem um presidente que não faz nada para impedi-lo.

Ao contrário da imagem criada pela cobertura noticiosa dos protestos da Black Lives Matter, 43% dos eleitores negros são moderados. Um quarto se identifica como conservador. Estes são os negros na igreja aos domingos. Eles são membros orgulhosos de uma irmandade ou fraternidade.

Os trolls russos reconheceram o poder desses eleitores. “Nenhum grupo isolado” foi mais alvo do que afro-americanos, segundo um relatório do Comitê de Inteligência do Senado sobre interferência nas eleições presidenciais de 2016.

Os russos queriam diminuir o entusiasmo dos negros por Hillary Clinton. Mas eles também trabalharam para aprofundar a divisão entre negros e brancos, e aumentar a participação de brancos no Partido Republicano.

Seus bots e trolls descreviam negros americanos como sinônimo de “os ativistas mais barulhentos” do movimento Black Lives Matter. Eles ampliaram a tática de Trump de apelar aos eleitores brancos "esquecidos", demonizando negros e latinos, sugerindo que eles levam crime e escolas ruins para os bairros brancos e contribuem para a diminuição de empregos americanos.

A estratégia parece ter sido bem-sucedida.


Em 2016, enquanto a participação de brancos aumentou, "pela primeira vez em 20 anos a taxa de participação de eleitores negros em uma eleição presidencial diminuiu", de acordo com o Pew Research Center.


O presidente Trump também reconhece o poder do voto negro. Após sua vitória em 2016, ele disse: os negros "não saíram para votar em Hillary. Eles não saíram. E isso foi grande – então, obrigado à comunidade afro-americana”.


Hoje ele continua colocando sua atenção e dinheiro de campanha para diminuir o impacto dos eleitores negros.


Primeiro, ele deseja atrair mais do que os 8% dos votos negros recebidos em 2016. Ele gosta de citar as estatísticas baixas de desemprego como prova de que ele é um bom presidente para os negros americanos. Obviamente, o desemprego entre os negros caiu para 7,5%, ante 16,8% no governo Obama; caiu mais dois pontos no governo Trump antes de disparar durante a pandemia.


Mas se Trump não consegue que os negros votem nele, ele gostaria de impedi-los de votar.


Trump se opõe à votação por correspondência, mesmo durante a pandemia, dizendo que é um terreno fértil para fraude. Mas sua verdadeira preocupação parece ser que facilitar a votação significa que mais membros das minorias votarão, e votarão nos democratas. Em março, ele foi explícito ao dizer que "nunca mais haveria um republicano eleito neste país novamente" se a votação por correspondência fosse permitida. Na semana passada, ele se dobrou, twittando que "levaria ao fim do nosso grande Partido Republicano".


(Na verdade, não há evidências de fraude generalizada na votação por correspondência. Muitos estados já permitem a votação por correspondência e alguns estudos sugerem que, em realidade, favorece os republicanos.)


Terceiro, Trump está tentando garantir às eleitoras suburbanas brancas que elas não deveriam temer serem rotuladas de racistas se votarem nele.


Mulheres brancas se afastaram do Partido Republicano em meados de 2018, em parte como reação ao comportamento de Trump como agressor e à divisão racial que ele encoraja. Elas não queriam ser vistas como algumas dessas "pessoas legais", como Trump descreveu os supremacistas brancos em Charlottesville, Virgínia.


Durante o Super Bowl, mulheres brancas e negras eram o público-alvo de um anúncio caro, centrado na decisão do presidente de mudar a sentença de prisão de uma mulher negra que estava presa há 21 anos por uma condenação não-violenta por drogas. Então, durante seu discurso no Estado da União de 2020, ele exaltou um ex membro dos aviadores de Tuskegee e destacou uma mulher negra e sua filha que receberam uma bolsa de estudos.

Mas quem se lembra do histórico de desrespeito de Trump em relação às mulheres, e às mulheres negras em particular, não vai se apaixonar por essa atitude.

Ele disse a quatro congressistas mulheres racializadas, três das quais nasceram nos Estados Unidos, que elas deveriam "voltar e ajudar a consertar os lugares totalmente destruídos e infestados de crimes de onde vieram". Ele chamou a representante Maxine Waters, democrata da Califórnia, uma "pessoa com baixo QI" e a ex-assessora Omarosa Manigault Newman de "cadela". Ele disse que um repórter negro era um "perdedor" e outro fazia "muitas perguntas estúpidas".

"Seus apoiadores estão certos – ele ataca a todos", disse Adia Harvey Wingfield, professora de sociologia da Universidade de Washington em St. Louis ao The Washington Post. "Mas também há uma clara semelhança nos ataques que ele faz contra pessoas racializadas e profissionais pretos. Esses insultos são retirados diretamente dos manuais históricos sobre trabalhadores e profissionais negros em particular – não serem qualificados, não serem inteligentes ou fazerem o que for preciso para ter sucesso em um ambiente predominantemente branco”.

Depois de três anos de Trump como presidente, 65% dos negros dizem que é um "momento ruim" para ser negro nos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa feita em janeiro pelo Ipsos do The Washington Post. Lamentavelmente, hoje a maioria dos negros diz que os americanos brancos "não entendem" a discriminação que eles enfrentam. Isso se aplica tanto aos democratas quanto aos republicanos brancos.

A sensação de isolamento racial é alimentada pela alta incidência de crimes de ódio contra negros – bem como contra latinos e judeus.

E depois há a ansiedade com a perspectiva de mais quatro anos permanecendo invisíveis, enquanto o presidente estabelece metas nacionais. Por exemplo, Trump humilha regularmente os funcionários do governo, muitos dos quais são negros. Ele continua tentando desmantelar o Affordable Care Act (que fornece subsídio aos consumidores de baixa renda) e cortar a ajuda financeira para os desempregados.

Trump demorou a responder ao coronavírus em geral. Mas ele realmente não conseguiu enfrentar a crise na América preta.


"O impacto desproporcional da crise do Covid-19 está apenas tendo o efeito de aumentar o desdém e a desconfiança das pessoas em Trump e em seu governo", disse ao The New York Times Adrianne Shropshire, diretora executiva do BlackPAC, versão do Progressive Action Coalition - PAC (Coalisão para a ação progressista) focado em democratas negros.


Depois que Arbery foi parado enquanto corria em uma rua residencial da Geórgia e foi morto a tiros sem motivo aparente, Trump disse que o caso era "muito perturbador", mas acrescentou que os homens armados poderiam ter reagido a "algo que não vimos na a gravação." A recusa em condenar completamente o ataque levou ativistas negros a reclamar que, mesmo diante do que parecia ser assassinato, Trump sentiu a necessidade de acenar para sua "coalizão amplamente branca", segundo o The Washington Post.


"Quando existe ódio emanando do Salão Oval, por que nos surpreendemos?" disse Karen Bass, congressista da Califórnia que chefia o Congressional Black Caucus, sobre o tiroteio.

Os negros americanos já tiveram o suficiente. Eles têm um interesse pessoal explosivo em derrotar Trump em 2020. Mais de 80% deles dizem que Trump é racista. Para eles, derrotá-lo é o movimento dos direitos civis de 2020.


E não é uma ameaça vazia.


Se os eleitores negros retornassem às urnas nos níveis de 2012, o candidato presidencial democrata "venceria o Colégio Eleitoral por 294-244", segundo uma análise do Centro para o Progresso Americano.


Se Biden escolher uma mulher negra como companheira de chapa, como muitos esperam que ele faça, isso pode aumentar ainda mais a adesão. Dizem que ele está considerando Kamala Harris, Val Demings e Stacey Abrams. Ele também prometeu nomear uma mulher negra para a Suprema Corte. Dado seu papel em seu triunfo nas primárias democratas, as mulheres negras estão em um ponto de extrema influência ao exigirem um posto na mesa do poder.

Um estudo de 2006 sobre padrões de votação constatou que os candidatos democratas negros deram um salto de dois a três pontos percentuais de participação entre negros e brancos. Existe o risco de aumentar o número de brancos votando em oposição ao candidato negro. Mas esse risco vem com um grande benefício caso o histórico de eleições passadas provocar um aumento na participação de negros no balanço dos Estados.

Na verdade, os democratas brancos eram "um pouco mais propensos do que os democratas negros a pensar que um candidato negro ajudaria as chances em uma eleição", de acordo com o resumo de uma pesquisa da CBS News no início de maio. A maioria dos eleitores negros diz que sua prioridade para um vice-presidente é simplesmente que o candidato – negro ou branco – aumente a chance de Biden vencer. No final de maio, as pesquisas mostraram que a principal escolha para a vice-presidência de Biden entre os democratas negros e brancos era a senadora Elizabeth Warren.

É provável que Trump esteja agora esperando que os eleitores suburbanos brancos fiquem tão assustados com os protestos contra a violência policial e as notícias de vitrines quebradas nas lojas Target que eles se voltarão para ele em número suficiente para anular o voto dos negros. Alimentar divisões raciais pode funcionar para sua base, mas não para os eleitores no meio. Pesquisas mostram que a maioria dos independentes já decidiu que não pode apoiar Trump. Agora eles viram a fita de George Floyd morrendo. Protestos violentos podem deixá-los ansiosos, mas eles têm os olhos abertos para a injustiça.

São dias sombrios, mas o perfil e o poder dos eleitores negros nunca foram tão altos. Eles têm a chance de levar a nação à recuperação. Líderes de direitos civis, que pressionaram pela Lei de Direitos de Voto de 1965 e tiveram seu sangue derramado para registrar eleitores negros, sonhavam com esse momento.

 

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