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Coronavírus no Brasil: o que você precisa saber

Como o Brasil se tornou um epicentro global do surto e quais foram as consequências políticas para seu presidente, que descartou os perigos?

 

Veículo: Nytimes.com

Data de publicação: 20/06/2020

Autorx: Manuela Andreoni

Título Original: Coronavirus in Brazil: What You Need to Know

How did Brazil became a global epicenter of the outbreak, and what have been the political consequences for its president, who has dismissed the dangers?

Traduzido por/Translated by: Cintia Tetelbom

 

Aqui está o que você precisa saber:


  • O Brasil pode ter o maior número de mortes por Covid-19 no mundo até Julho.

  • Como o Brasil chegou aqui?

  • O que o país está fazendo para combater o surto?

  • Quais foram as consequências da resposta do Brasil?

  • Houveram desenvolvimentos positivos recentes?


O Brasil pode ter o maior número de mortes por Covid-19 no mundo até Julho.


A América Latina se tornou o epicentro da pandemia de coronavírus no final de Maio, impulsionada em grande parte pelo aumento do número de casos no Brasil, à medida que o número de infecções nos Estados Unidos e na Europa diminuiu.


Nas últimas semanas, o Brasil registrou mais de 1.000 novas mortes por dia do Covid-19, a doença causada pelo coronavírus, superando o número de mortes em todos os países, exceto os Estados Unidos. Em 19 de junho, o país registrou 54.771 novos casos, o maior total em um dia em qualquer país atingido pela pandemia. Se essa tendência se mantiver, alguns epidemiologistas projetam que o número de mortes da epidemia no Brasil poderá superar o dos Estados Unidos no final de Julho.


A resposta do país à crise tem sido amplamente criticada em casa e no exterior. O presidente Jair Bolsonaro descartou o perigo apresentado pelo vírus, sabotou medidas de quarentena adotadas em nível estadual e pediu aos brasileiros que continuem trabalhando para impedir o colapso da economia.


Mesmo com a piora da crise de coronavírus no país nas últimas semanas, algumas das principais cidades diminuíram medidas preventivas em meados de Junho. Os shopping centers começaram a reabrir em São Paulo e no Rio de Janeiro. As praias estão começando a atrair multidões novamente, mesmo enquanto alguns sistemas hospitalares estão quase ficando sem leitos de terapia intensiva (UTI).


Como o Brasil chegou até aqui?


O Brasil declarou estado de emergência de saúde pública no início de Março, apenas alguns dias depois da Organização Mundial da Saúde. O Ministério da Saúde insistiu que as autoridades estaduais cancelassem eventos públicos e implementassem medidas de distanciamento social.


Alguns especialistas pensaram que o Brasil estava bem equipado para enfrentar o desafio, com base em seu histórico em emergências de saúde pública passadas. O Brasil teve meses para estudar as respostas dos primeiros países atingidos pelo vírus e possui um sistema público de saúde que, embora subfinanciado, oferece uma cobertura consistente em todo o país.


Mas a resposta do país rapidamente deu errado, com esforços dos governos estaduais para combater o vírus muitas vezes em desacordo com as posições adotadas pelo presidente. Bolsonaro pressionou as autoridades de saúde pública a abandonarem as recomendações de distanciamento social, chamando o Covid-19 de "resfriado". Ele elogiou o uso da hidroxicloroquina como solução para a crise. Na segunda-feira (15/06/2020), a agência de Administração de Alimentação e Drogas dos EUA (Food and Drug Administration) disse que estava revogando a autorização de emergência do medicamento para tratar o Covid-19 em pacientes hospitalizados, dizendo que ele e a cloroquina "provavelmente não são eficazes" e podem apresentar riscos potenciais.


A resposta arrogante de Bolsonaro à pandemia o colocou contra governadores e funcionários do Ministério da Saúde, que pediam que as pessoas ficassem em casa na medida do possível. Dois ministros da saúde saíram após confrontos com Bolsonaro, um demitido e outro demitindo-se, deixando um general militar sem treinamento em saúde pública encarregado do segmento.


Segundo especialistas, as mensagens conflitantes do governo deixaram os brasileiros incertos sobre o mérito das medidas de isolamento, o que levou a um baixo cumprimento. Isso, por sua vez, levou a taxa de contágio do Brasil a ser uma das mais altas do mundo.


O que o país está fazendo para combater o surto?


O Ministério da Saúde ainda não apresentou um plano abrangente para combater o vírus. Uma de suas principais iniciativas foi aumentar a produção de hidroxicloroquina e incentivar os médicos do sistema público de saúde a prescrevê-lo.


O Brasil tem lutado para importar equipamentos essenciais e que salvam vidas, como testes para coronavírus e respiradores. A falta de testes tornou difícil para as autoridades entenderem em tempo real onde e com que rapidez o vírus está se espalhando. Especialistas acreditam que os números oficiais de coronavírus do Brasil subestimam significativamente o escopo do problema.


Entre 1º de janeiro e 6 de junho, 23.171 pessoas que não foram diagnosticadas com o coronavírus morreram de infecções respiratórias agudas, de acordo com dados divulgados pela Fiocruz, um dos institutos de pesquisa em saúde estatais do Brasil. Especialistas acreditam que a maior parte deles morreu de Covid-19.


Para aliviar a dor econômica, o Brasil ofereceu três parcelas mensais de US$120 a US$240 a pessoas que perderam sua renda como consequência da pandemia. Esse programa foi marcado por denúncias generalizadas de fraude e pela dificuldade que muitas pessoas elegíveis experimentaram no acesso aos fundos. Não está claro se haverá pagamentos adicionais.


Quais foram as consequências da resposta do Brasil?


A resposta caótica do Brasil aprofundou a polarização política entre apoiadores e críticos do presidente. Os sistemas hospitalares lidaram basicamente com a quantidade esmagadora de pacientes, mas o vírus causou um impacto devastador nos profissionais de saúde. Dezenas de enfermeiros e técnicos hospitalares morreram após contrair o vírus no trabalho.


No país profundamente desigual, alguns grupos foram pior atingidos que outros. Segundo um relatório das Nações Unidas, os pretos no estado de São Paulo têm 62% mais chances de morrer do que os brancos.


Brasileiros pobres que ficam doentes têm menos probabilidade de receber assistência médica de alta qualidade. Mesmo que a maioria dos hospitais públicos esteja operando com capacidade quase total, vários hospitais particulares têm muito espaço sobrando. A taxa de mortalidade nas cidades mais pobres tem sido substancialmente superior à taxa nas cidades ricas.


A pandemia exacerbou vários dos problemas crônicos do Brasil. O desmatamento na floresta amazônica aumentou e a polícia continuou matando dezenas de pessoas nas comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro.


A economia do Brasil deverá contrair 8% este ano, e a fuga de capitais está atingindo níveis nunca vistos desde os anos 90, quando o país lutava com a hiperinflação.


E, enquanto o Brasil se recupera da pior crise em décadas, Bolsonaro e seus aliados estão usando a perspectiva de intervenção militar para proteger seu poder.


Houveram desenvolvimentos positivos recentes?


Há alguns sinais de que o surto no Brasil está começando a se estabilizar. Um estudo do Imperial College London estimou que a taxa de contágio do Brasil atingiu 1,05 nesta semana, abaixo dos 2,8 de Abril. A taxa atual significa que cada 100 pessoas contaminadas infectam outras 105. O surto é considerado sob controle quando a taxa de contágio for inferior a 1.


"O aumento não é tão exponencial como era anteriormente", disse Michael Ryan, diretor executivo da Organização Mundial da Saúde, a repórteres na quarta-feira. "[Mas] a doença pode decolar novamente."

 

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