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Enfermeira líder sindical acusa Brasil de sacrificar médicos para o coronavírus


 

Veículo: Edition.cnn.com

Data de publicação: 13/06/2020

Autorx: Nick Paton Walsh, Jo Shelley, Roberta Fortuna e William Bonnett

Título original: Nurse leader accuses Brazil of sacrificing medics to coronavirus

Traduzido por/Translated by: Nara A. de Souza

 

Para Daniele Costa, ser recrutada como enfermeira no Rio de Janeiro foi um sonho que virou realidade. Sua amiga Libia Bellusci relembra sua alegria extasiada por conseguir a vaga - um passo além do trabalho de ambulância nos arredores da cidade.


"'Venha aqui, eu vou te abraçar'", disse ela, lembrando-se de Costa ter dito a ela, mesmo com o distanciamento social. “'Eu não consigo me conter.'” Elas ficaram na fila por quatro horas para a entrevista, em um dia ensolarado.


Mas o golpe de sorte foi fatal. Costa pegou o coronavírus rapidamente e a última vez que Bellusci a viu foi em um vídeo no Facebook, descrevendo seus sintomas. Costa, de 41 anos, morreu sozinha, em um hospital a quatro horas de carro fora da cidade, o único lugar em que ela conseguiu um leito na UTI, no dia 27 de abril.


"Nos últimos dias, ela não recebeu o que deu a vida inteira - amor e um ótimo cuidado", disse Bellusci, em lágrimas. "Ela era uma pessoa incrível, muito animada."


Bellusci é vice-presidente do Sindicato das Enfermeiras do Estado do Rio, defendendo uma parte da equipe médica do Brasil que foi particularmente muito afetada. Ela própria já teve coronavírus, mas esconde da família os sintomas permanentes da doença nos pulmões para não os preocupar. Ela foi testada apenas como cortesia de um programa privado e desde então foi liberada para voltar ao trabalho, disse ela.


No estado do Rio, a pandemia ceifou a vida de 30 médicos e 40 enfermeiros e equipe médica, dizem os sindicatos, provavelmente o pior estrago no Brasil. Bellusci descreve as questões de saúde no Rio - uma cidade icônica e popular entre os turistas, mas pobre e criticada por seus sistemas caóticos - como "muito complexa".


"As unidades estão cheias", disse ela. "Em outros, existem camas vazias, mas não há respiradores suficientes. Também há uma escassez de profissionais de saúde, porque muitos foram infectados."


"O pior é quando, desesperados para ajudar a todos, precisamos deixar cadáveres de lado para tentar salvar alguém que chegou muito doente na zona vermelha de Covid-19", disse ela, acrescentando que eles continuam a preparar os corpos para o necrotério quando o novo paciente está estável. Bellusci disse que esse problema havia diminuído onde ela trabalha, mas seu sindicato tinha relatos sobre isso em outros lugares.


Quando chega em casa, tira a roupa e o EPI e faz tudo o que pode para proteger seu filho e sua mãe. "Eles estão colocando pessoas doentes para morrer", disse ela sobre o desrespeito à segurança das enfermeiras que podem ter o vírus. "Os municípios, o governo estadual e federal estão matando pessoas. Não há outra explicação."


Vídeos divulgados por médicos dos piores momentos da crise do Rio parecem sustentar as alegações. Um deles mostra enfermeiras dormindo no chão de um hospital de campanha em meados de maio, frequentemente compartilhando colchões. Outro, de 5 de maio, ainda mostra cadáveres embrulhados em sacos de lixo, em camas ao lado de um paciente vivo.


O governo local disse recentemente que a capacidade do hospital melhorou o suficiente para permitir um alívio do isolamento, embora os casos continuem aumentando. Em um dos melhores hospitais do Rio, a situação está muito melhorada. A CNN foi apresentada ao hospital Municipal Ronaldo Gazolla, onde 286 pacientes estavam sendo tratados, 88 em toda a UTI, disseram funcionários.


Na época, o diretor Luis Fernando Gandara explicou que o hospital tinha cerca de seis a oito óbitos por dia, principalmente na UTI. Isso equivale a uma taxa de mortalidade inicial de até 10% dos pacientes de UTI todos os dias. Nos fundos do hospital, três contêineres congeladores brancos ficam em fila, capazes de conter 75 corpos por vez, até que possam ser reclamados e enterrados.


"É um nível de letalidade para o qual ninguém, nenhuma equipe, estava preparado", disse Gandara. O desafio agora é pessoal. "Precisamos de mais médicos para trabalhar com a Covid, e também de alguns medicamentos que estão escassos no mercado."


Ele disse à CNN que seu hospital não tinha escassez de EPI, uma declaração confirmada pelo que vimos. O governador do Rio recusou pedidos de entrevista sobre o tema. Um comunicado da secretaria de saúde do Estado do Rio disse que eles haviam comprado milhões de itens de EPI e os funcionários foram treinados para o uso adequado.


No entanto, a escassez e a taxa de mortalidade entre pacientes e enfermeiros estão fazendo com que até os médicos mais comprometidos desistam. Pedro Archer é médico da UTI em medicina financiada pelo estado, que afirmou estar se retirando das "zonas vermelhas" de Covid-19 para sua própria saúde. Pálido e com um leve suor na testa, ele nos encontrou depois de um longo turno.


"Na quarta-feira passada, quando iniciei meu turno, já não havia respiradores disponíveis e, às 9h - apenas duas horas trabalhando - um paciente morreu porque não havia respirador", disse ele. Horas depois, um homem idoso chegou com comorbidades. A equipe fez a escolha angustiante de dar um respirador sobressalente não a ele, mas a outro paciente mais jovem que provavelmente sobreviveria. "Você passa a noite inteira super estressado", disse ele. "Muitos médicos estão saindo e se demitindo porque as condições de trabalho são muito precárias."


Archer é diretor do sindicato dos médicos do Rio, onde disse que um médico morria todos os dias.


"No setor público, eles usam o mesmo EPI o dia todo", disse ele, acrescentando que em hospitais privados eles mudam para cada paciente. "Aqui no Brasil, se você tem seguro de saúde, você tem chances muito maiores de sobreviver."


Archer disse que alguns dos grandes hospitais de campanha construídos no Rio reduziram a pressão, mas os colegas ainda estão renunciando. "É desgastante, física e emocionalmente. Na primeira semana difícil da pandemia, comecei meu turno às 19h e perdi um paciente na primeira hora."


Archer culpa a falta de liderança. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, considerou o vírus uma "gripezinha" e classificou as medidas de bloqueio como uma "desgraça terrível".


"É difícil enfrentar a pior crise de saúde do país com um presidente que não vê a realidade ou tem maturidade para lidar com a crise. Um presidente que demitiu dois ministros da saúde porque não concordou com suas opiniões médicas. Nós nos sentimos muito desvalorizados, todos nós que estamos na linha de frente, brigando e vendo pessoas morrendo todos os dias."

 

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