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Um equilíbrio delicado: pesando protestos contra os riscos do coronavírus

Enquanto os protestos contra a brutalidade policial continuam, autoridades públicas estão atentamente buscando por sinais de que manifestações em massa estão levando a surtos do vírus.

 

Veículo: Nytimes.com

Data de publicação: 07/06/2020

Autorx: Amy Harmon e Rick Rojas

Título original: A Delicate Balance: Weighing Protest Against the Risks of the Coronavirus

As the protests against police brutality continue, public officials are warily watching for signs that mass demonstrations are leading to virus outbreaks.

Traduzido por/Translated by: Eduarda Correia

 

Nenhum dos planos de como o país poderia emergir com segurança do lockdown do coronavírus envolvia milhares de americanos, lado a lado, nas ruas das principais cidades ou tossindo incontrolavelmente quando as autoridades usaram gás lacrimogêneo para dispersá-los. Ninguém planejava que os manifestantes fossem levados ao montes para dentro de ônibus lotados ou deixados em celas lotadas.

Antes da erupção de ultraje pelo assassinato de George Floyd, sob custódia policial em Minneapolis, os debates sobre a reabertura se concentravam em questionar se os estados tinham sistemas adequados para detectar e tratar os casos do coronavírus, que matou mais de 110.000 pessoas nos Estados Unidos desde o começo do ano.


Mas, à medida que os protestos contra a brutalidade policial continuam por uma segunda semana, as autoridades públicas estão precavidamente buscando por sinais de que um final imprevisto do distanciamento social em grande escala levou a novos casos do vírus. A questão tornou-se parte do debate politizado sobre as repercussões econômicas do lockdown, que alguns críticos argumentaram ter ido longe demais.


E, no domingo, especialistas em doenças infecciosas debateram no Twitter sobre como fornecer uma estimativa confiável do impacto dos protestos na transmissão do vírus - ou se tentar fazê-lo pode erroneamente ser visto como desencorajar a participação no crescente movimento por justiça racial.


No que ele chamou de uma estimativa simplista, Trevor Bedford, especialista em vírus do Fred Hutchinson Cancer Research Center (Centro de Pesquisa de Câncer Fred Hutchinson), escreveu no Twitter que cada dia de protestos resultaria em cerca de 3.000 novas infecções. Ao longo de várias semanas, à medida que cada pessoa infectada contagiava menos uma pessoa, em média - a atual taxa de transmissão nos EUA - essas infecções levariam a 15.000 a 50.000 a mais, e 50 a 500 mortes eventuais. Dadas as disparidades raciais, até agora, na pandemia, ele observou que essas mortes serão desproporcionalmente entre pretos. "O benefício social de protestos contínuos deve ser pesado contra os potenciais impactos substanciais à saúde", declarou ele.


Marc Lipsitch, epidemiologista de Harvard, concordou que essas projeções eram razoáveis e disse em um e-mail que o Dr. Bedford havia prestado "um serviço" fazendo uma estimativa aproximada com suposições explícitas.


Mas ele também observou que, se os estados em que o vírus ainda estivesse se espalhando conseguissem controlá-lo, isso "ofuscaria massivamente os efeitos dos protestos". Cerca de 20.000 novos casos são identificados em todo o país na maioria dos dias, e cerca de 1.000 novas mortes são anunciadas. Se todas as comunidades estivessem realizando testes suficientes e rastreamento de contatos para reduzir esses números, menos pessoas infectadas em protestos infectariam outras pessoas, encurtando a cadeia de transmissão e reduzindo o número de mortes eventuais.


Dr. Bedford escreveu que suas estimativas continham muitas incertezas. Não há estimativa oficial de quantas pessoas estão protestando ao dia, em média, por exemplo. Ainda assim, ele achava importante fornecer uma estrutura fundamentada em princípios epidemiológicos para combater as suposições improvisadas feitas por especialistas políticos. Mas, em resposta, outros cientistas expressaram preocupação de que as postagens de Dr. Bedford "desse forragem aos que se opõem aos direitos civis".


Muitos epidemiologistas, incluindo Dr. Bedford, observaram nos últimos dias que as próprias desigualdades raciais impregnadas dos EUA se traduzem em mortes e doenças precoces desproporcionais entre os afro-americanos. Isso foi especialmente evidente na pandemia de coronavírus, na qual a taxa de americanos pretos que estão morrendo é o dobro da taxa de americanos brancos. Um grupo de mais de 1.000 pessoas que trabalham na área de saúde e medicina assinou recentemente uma carta dizendo que os protestos eram, de fato, vitais para a saúde pública.


"O racismo e a violência policial são grandes ameaças à saúde pública neste país e o protesto é uma das únicas opções disponíveis para pessoas que foram sistematicamente desprivilegiadas", disse Eleanor Murray, epidemiologista da Universidade de Boston.


Como pode levar até duas semanas para uma pessoa recém-infectada apresentar sintomas e os protestos começaram logo após a morte de Floyd, os especialistas em saúde esperam que um aumento de casos comece a aparecer esta semana. Manifestantes em vários lugares contraíram o vírus, inclusive em Lawrence, no Kansas, onde alguém que participou de um protesto no final de semana passado testou positivo na sexta-feira. Essa pessoa não usava máscara enquanto protestava, disseram autoridades locais. Em Atenas, Geórgia, uma comissária do condado que participou de um protesto disse que havia testado positivo.


Em Oklahoma, um jogador de futebol americano universitário que participou de uma manifestação revelou que mais tarde testou positivo para o vírus.


"Depois de participar de um protesto em Tulsa E de me proteger bem, testei positivo para Covid-19", escreveu no Twitter Amen Ogbongbemiga, zagueiro da Oklahoma State University. "Por favor, se você for protestar, cuide-se e fique seguro."


Muitos fizeram o seu melhor. Na Califórnia, Jarrion Harris, 32, usava uma máscara de tecido na marcha em Hollywood no domingo.

"Definitivamente não estou aqui porque acho que a Covid-19 se escondeu nas sombras", disse ele. "Vale a pena o risco."


Políticos e autoridades de saúde pública insistiram que os manifestantes usassem coberturas faciais e mantivessem um distanciamento social. Em alguns lugares, incluindo Atlanta, Illinois, Los Angeles e Minnesota, as autoridades também pediram que os manifestantes procurassem exames de coronavírus para garantir que não foram infectados.


A onda de protestos nas cidades americanas e o aparente apoio de alguns líderes políticos não passaram despercebidos à direita. Especialistas e comentaristas afirmaram, nos últimos dias, que prefeitos e governadores que severamente alertaram contra reuniões públicas, agora estão dando suas bênçãos aos protestos.


O Dr. Tom Frieden, ex-diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, nomeado pelo presidente Barack Obama, twittou na semana passada que a ameaça de controlar o coronavírus era "pequena" em comparação com a ameaça "criada quando os governos agem de maneiras em que perdem a confiança da comunidade”.


Isso impressionou Jonah Goldberg, escritor da The Dispatch, uma revista conservadora on-line, como uma injusta dualidade de critérios.


"Você sabe o que destrói a confiança do público em pessoas como Frieden?" O Sr. Goldberg escreveu. "Quando eles dizem que você é um tolo ou um monstro que deixa pessoas morrerem por querer ir à igreja ou manter seus negócios abertos, mas você é um herói quando se junta a um protesto que eles aprovam."


À medida que o vírus se espalhou por todo o país, muitos conservadores se rebelaram contra as medidas rigorosas apoiadas por especialistas em saúde pública e houve conflitos quanto ao uso de máscaras em público, autorização de celebrações religiosas presenciais e a valorização a restauração da economia sobre outras preocupações.


Se o vírus surgir novamente, disse Christopher F. Rufo, diretor do Centro de Riqueza e Pobreza do Discovery Institute, um gabinete estratégico conservador, a posição dos especialistas será prejudicada. "Você terá metade do país que perdeu a fé quase que completamente no estabelecimento de saúde pública", disse ele.

Mas pode ser difícil rastrear contaminação para outros manifestantes, que frequentemente marcham lado a lado com estranhos. E especialistas em doenças infecciosas disseram que o aumento de casos pode resultar da reabertura de restaurantes, locais de trabalho e transporte de massa.


Em Las Vegas, os cassinos estão reabrindo. Na cidade de Nova York, centro do surto de coronavírus nos Estados Unidos por muito tempo, por volta de 400.000 trabalhadores podem começar a retornar a trabalhos na construção, indústria e lojas de varejo quando a cidade entrar na primeira fase de sua reabertura.


"Você não pode colocar a culpa disso nos protestos", disse Jeffrey Shaman, epidemiologista da Universidade de Columbia, cujas projeções do caminho do vírus sugerem que as mortes por coronavírus nos EUA aumentarão nas próximas semanas. “Os protestos por si só não vão levar ao ressurgimento dos casos. Isso está associado a todas as novas oportunidades que fornecem uma maneira de as pessoas se reunirem e transmitirem o vírus umas às outras.”


Por sua parte, os ativistas disseram que a iniciativa de protestar diante da ameaça do vírus reflete a gravidade maior do momento e a intensidade de sua paixão.”


"Se eu for infectado lutando por justiça, minha alma ficará em paz com isso", disse Sara Semi, 27, manifestante em Minneapolis que usava uma máscara com um filtro e carregava latas de spray desinfetante. "Não posso ficar em casa protegida por meus privilégios se os outros não estiverem. Não posso sentar em minha casa em segurança enquanto meus amigos e vizinhos não estão. Sim, o corona está acontecendo. É real, é mortal. Mas o racismo mata muito mais vidas.”


Vidal Guzman, 29, manifestante em Nova York, disse: “As pessoas têm mais medo da polícia do que de Covid-19. Eles estão dispostos a fazer qualquer coisa”.


Diferentes condições e muitas das incógnitas restantes sobre como o vírus é transmitido podem dificultar a previsão da propagação do vírus em qualquer protesto. Reuniões ao ar livre são um risco muito menor do que as internas. Quantas pessoas estão usando máscaras, gritando ou fazendo barulho, e até o clima podem afetar o risco de infecção.


Ainda assim, especialistas dizem que está ao alcance das autoridades policiais minimizar ou eliminar alguns dos principais fatores de risco, como prisões e gás lacrimogêneo. E acrescentam que os manifestantes, se optarem por ir às ruas, devem fazer tudo o que puderem para permanecerem seguros.


“Se você compareceu a um protesto”, afirmou o governador de Nova York Andrew M. Cuomo, no domingo, “suponha que possa ter sido exposto à Covid. Faça o teste.”

 

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